Ao ser incluída na Base Nacional Curricular de Ensino – BNCC, a educação socioemocional acabou ganhando uma maior visibilidade nos debates no meio educacional. O que antes parecia ser apenas uma teoria, hoje tomou grandes dimensões diante da crescente necessidade de resiliência e desenvolvimento emocional das crianças.
A padronização de testes e avaliações dentro de uma escola se mostram cada vez mais ineficientes diante da necessidade de preparação para o mercado de trabalho atual, o que torna o desenvolvimento emocional do indivíduo extremamente importante. Os profissionais com maior capacidade socioemocional acabam garantindo melhores oportunidades por apresentarem um maior preparo para cargos de liderança.
Na atualidade, é impossível discutir educação sem abordar esse tema tão importante. Quais são as
habilidades que a educação socioemocional desenvolve e como deve ser feito o suporte à esses alunos? Para te ajudar
a entender um pouco mais sobre o assunto, preparamos esse material exclusivo. Boa leitura!
Como surgiu a Educação Socioemocional?
Apesar de ser um tema relativamente contemporâneo, a Educação Socioemocional já vem sendo abordada por grandes pensadores da educação como Lev Vygotsky, Jean Piaget, Carl Rogers, e muitos outros. A partir de 1990, começou a se formar o conceito de que as habilidades socioemocionais deveriam ser aprendidas para uma formação completa.
Naquele mesmo ano, foi publicado um artigo de John Mayer e Peter Salovey, ambos professores da Universidade de Yale, que classificava no conceito de inteligência, a habilidade de compreender, reconhecer, utilizar e regular as emoções durante as situações da vida. Com isso, surgiu o conceito de Inteligência Emocional.
O termo ganhou mais popularidade a partir de 1995, quando foi empregado no livro Inteligência Emocional, do jornalista e psicólogo Daniel Goleman. Sua obra é um bestseller e referência no assunto até os dias atuais. Depois do seu sucesso, vários estudiosos e universidades passaram a produzir diversos estudos sobre o tema, o que foi fundamental para dar impulso à Educação Socioemocional.
Com essa grande popularidade, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, se interessou pela pauta, e no Fórum Mundial sobre educação, realizado em Dakar em 2000, foram estabelecidas as seguintes habilidades como pilares para a educação do Século 21:
- Aprender a aprender;
- Aprender a fazer;
- Aprender a conviver;
- Aprender a ser;
Esses conceitos serviram de base para a atual Educação Integral, que reconhece que a educação não deve ser baseada apenas nas habilidades cognitivas do indivíduo. Essa corrente determina que os conhecimentos aplicados na educação de devem abranger também as habilidades emocionais, sociais e éticas, e apenas dessa forma, é possível formar corretamente os “adultos do amanhã”.
O que é a educação socioemocional?
De acordo com o conceito de Inteligência Emocional, é possível desenvolver as habilidades necessárias para que um indivíduo consiga lidar com todas as situações do cotidiano com mais eficiência e qualidade de vida. Através do desenvolvimento dessas capacidades, o aluno poderá lidar com as adversidades e compreender que as coisas possuem um fluxo natural.
Quando o aluno recebe uma boa educação e interação socioemocional, ele terá mais preparo para cargos e posições de liderança, além de desenvolver a capacidade de falar em público. Ele será preparado para lidar com situações conflitantes, de estresse e medo, aprendendo e se relacionando melhor.
Atualmente, os pais buscam por escolas e instituições que ofereçam uma formação cada vez mais completa e abrangente para preparar seus filhos para o futuro. Nesse sentido, a abordagem da Inteligência socioemocional surge como um pré-requisito para guiar a jornada de ensino desse indivíduo.
As habilidades socioemocionais podem ser separadas em quatro categorias distintas:
- Cognitivas: nessa categoria se enquadram as habilidades que demandam mobilização de algum conhecimento e/ou processo de sinapse entre diferentes saberes para alcançar alguma meta ou objetivo. Alguns exemplos são: planejamento estratégico, raciocínio lógico, pensamento criativo, resolução de problemas, etc.
- Sociais: podemos inserir nessa categoria todas as habilidades relacionadas com interações sociais no meio em que estamos inseridos. É a capacidade de se relacionar com pessoas e lidar com situações de forma empática e colaborativa. Entre as habilidades referentes à essa categoria, podemos mencionar: trabalho em equipe, comunicação clara, resolução de conflitos, pensamento positivo, entre outras.
- Emocionais: tão importante quanto sabermos nos relacionar com as pessoas ao nosso redor, saber lidar com seus sentimentos e emoções é imprescindível para um bom convívio em sociedade. As habilidades dessa categoria (como a autoavaliação, autoconhecimento, autoconfiança, capacidade de aprender com os erros, etc), nos ajudam a manter o equilíbrio diante das adversidades.
- Éticas: as habilidades éticas representam a compreensão dos valores éticos e morais que pautam o nosso convívio em sociedade. Elas ajudam, acima de tudo, a nos relacionarmos da forma mais saudável possível, sem invadir nem desrespeitar o espaço do próximo. Bons exemplos de habilidades dessa categoria são: aceitar as diferenças, respeitar o próximo, respeito ambiental, empatia, etc.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular– BNCC, essas competências socioemocionais devem estar presentes em todas as 10 competências gerais. Esse processo de construção socioemocional acontece com o desenvolvimento de determinadas habilidades voltadas para a melhoria do comportamento e hábitos do estudante. Veja alguns exemplos dessas habilidades:
Autoconhecimento e Autogestão
Referente ao desenvolvimento e conhecimento que cada pessoa possui sobre si mesma, ela se refere à compreensão das suas capacidades e limitações, entendendo o papel de cada um desses aspectos no seu crescimento. Mais do que saber e conhecer tudo que faz parte da compreensão de quem você é, é preciso manter o foco e uma atitude positiva diante das adversidades.
Independentemente das suas limitações, só é possível alcançar o sucesso por meio de uma mentalidade positiva, encarando as adversidades como desafios a serem vencidos, e não como obstáculos intransponíveis. O indivíduo precisa entender que, com trabalho, treino e esforço, é possível conquistar tudo o que é objetivado.
Dito isso, o autoconhecimento tem um papel essencial no desenvolvimento de cada um, trazendo mais coragem e autonomia para buscar os seus propósitos. Aquele estudante que recebe um maior preparo nessa competência acaba se tornando um indivíduo mais criativo e resiliente.
Em um mundo tão dinâmico como o que vivemos atualmente, a capacidade de autogestão se tornou uma ferramenta valiosa para lidar com a rotina e as relações no decorrer da vida. Saber gerenciar seu estresse, emoções e impulsos, acaba trazendo uma maior autonomia e disciplina, pois o indivíduo estará menos suscetível aos estímulos e obstáculos externos. A autogestão torna a pessoa mais focada e preparada para todas as situações.
Responsabilidade e Cidadania
Com relações mais vazias e com um crescente distanciamento emocional, o mundo acaba perdendo parte da sua humanidade todos os dias. Apesar de terrível, sabemos que a banalização da dor e do sofrimento acaba nos deixando em uma posição mais fria e pouco empática perante o restante da sociedade.
O trabalho de consciência social ajuda a resgatar essa empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, que é tão inerente à condição humana. Essa habilidade faz com que o indivíduo tenha mais compaixão, reduzindo a incidência de agressões, como o bullying, racismo, homofobia, entre outras.
Empatia
Essa competência ajuda a desenvolver a capacidade de relacionamento como um todo, trazendo a capacidade de se comunicar com mais clareza, ouvir com mais empatia, resistência à pressão social, resolução de conflitos, etc.
As habilidades de relacionamento ensinam como agir e, principalmente, como reagir às condições externas da convivência em sociedade. Essa capacidade ajuda o aluno a aprender a solucionar conflitos e impasses de forma inteligente e construtiva, respeitando os limites e o espaço pessoal do outro. É uma competência importante para toda a jornada do indivíduo não só para a sua vida escolar.
Tomada de decisão responsável
O objetivo dessa competência é trazer mais sabedoria para o processo de tomada de decisão, seja na vida escolar, pessoal ou profissional. Além disso, por garantir um maior cuidado com a ética, padrões éticos e a segurança nas relações, essa competência agrega uma melhor convivência em sociedade.
Empatia e cooperação
Essa é uma das habilidades mais importantes para um convívio social saudável e respeitoso. O exercício da empatia, diálogo e cooperação faz parte de um processo amplo de acolhimento e valorização da diversidade entre os indivíduos, as suas múltiplas culturas, etnias, gêneros, religiões, etc.
Por meio dessa habilidade, o estudante é preparado para se reconhecer como membro de uma coletividade e agir pautado nos valores da sociedade.
Cultura digital
É fato que vivemos em um mundo completamente digital, e a tendência é que a conexão das tarefas diárias com a tecnologia seja ainda maior com o passar dos anos. Por esse motivo, essa competência se faz extremamente necessária, por prepara o aluno para compreender, utilizar e criar as chamadas Tics – Tecnologias de Informação e comunicação.
Essa habilidade, além de contribuir para o desenvolvimento acadêmico do aluno, é de enorme valor para a sociedade. Com mais indivíduos preparados para utilizar as tecnologias, maiores e melhores serão as suas futuras contribuições para a sociedade.
Argumentação
Saber expressar suas opiniões é tão importante quanto o conhecimento que as embasam, e por essa razão, a argumentação configura como uma habilidade socioemocional de grande valor. Com a sua ajuda, o aluno estará preparado para debater, explicar, exemplificar e defender as suas ideias e pontos de vista.
Como adultos, sabemos como a capacidade de se expressar com qualidade é importante para a nossa vida, não só no meio acadêmico, mas também em nossa vida pessoal e no ambiente de trabalho. Essa competência estimula o aluno a buscar a verdade dos fatos e aprender a desenvolvê-la em palavras.
Essas competências socioemocionais podem e devem ser aprendidas na escola, principalmente de forma prática. Esses conhecimentos têm um papel essencial no desenvolvimento integral das crianças, além de contribuírem positivamente para o desempenho acadêmico.
Além de melhorar a vida escolar, essas habilidades fazem parte de uma formação mais abrangente das crianças, preparando-as para a vida e convívio social de forma mais completa. A responsabilidade de ensinar cada uma delas é de todos os professores e orientadores da vida escolar, devendo ser inseridas em todos os componentes curriculares da educação
A educação e interação socioemocional é mais do que ensinar simpatia, elas devem extrapolar a sala de aula e fazer parte de uma rotina de ensino muito mais abrangente.
As competências socioemocionais de acordo com cada etapa de aprendizagem
A Base Nacional Comum Curricular atual, não diferencia os parâmetros previstos para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Na prática, que é esperado dos profissionais da educação, é que haja uma certa adaptação em cada uma das etapas, para que sejam desenvolvidas as competências cognitivas e socioemocionais de acordo com a fase de desenvolvimento do indivíduo.
Ou seja, com a adaptação do currículo, revisão dos conteúdos e materiais didáticos, e formação específica dos professores, é possível desenvolver com mais assertividade as habilidades socioemocionais esperadas para cada etapa. Esse trabalho deve ser integrado com naturalidade à cada fase, de uma forma orgânica e eficiente.
Esse trabalho deve ser feito com fluidez, respeitando a capacidade e o momento da criança, e obedecendo o processo de aprendizagem da seguinte maneira:
Educação Infantil: Para essa etapa, a BNCC dispõe sobre os direitos de aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo, como: conviver, brincar, explorar, participar, expressar e se conhecer. Com base nos eixos estruturantes de brincadeiras e interações, é criada uma dinâmica saudável de desenvolvimento.
Ensino Fundamental: nessa etapa de desenvolvimento, a prioridade é trabalhar as áreas de conhecimento acadêmico essenciais, como Linguagens, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Matemática, e também o desenvolvimento dos componentes curriculares da etapa.
Com relação à educação e interação socioemocional, são trabalhadas as habilidades de autonomia e protagonismo.
Ensino médio: nessa nova fase de mudanças curriculares, e com uma nova carga horária acadêmica, são trabalhadas novas experiencias cognitivas e de desenvolvimento individual do aluno. O foco está no desenvolvimento da autonomia, protagonismo e visão crítica. Além disso, também são trabalhadas a responsabilidade e a tomada de decisão assertiva
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